Travessia do Oceano Atlântico a remos - ler em português em http://travessiaoceanica.blogspot.com

Monday 8 April 2013

A luta dos 10 nós e o engano dos sentidos

Entretanto, a ‘luta dos 10 nós’ concentrava as minhas atenções: “dirigir o barco com ventos de 10 nós é uma luta injusta; a mais de 10 nós, é uma luta perdida! É próximo dos 10 nós que o vento se põe a uivar. Parece que vem a uivar lá de longe mas desconfio que apenas o faz quando atravessa a estrutura do barco. A partir desta velocidade o vento provoca ondulação. É outro mau agoiro: quando se forma rebentação na crista da onda escuto um ‘vvvsssshhhhhh’ e então é só contar "3, 2, 1" e… ‘bang’ - impacto na lateral do barco!”

Com este mar, “é mal-estar depois de mal-estar. Apenas há três posições possíveis a bordo: a remar (impossível de manter por muitas horas porque é necessário descansar, comer, repor…); deitado de boca para cima (o que é impossível de manter por muito tempo porque há que remar e porque me faz entrar em perigosa letargia); a vomitar (que não se pode manter por muito tempo porque é desconfortável e porque se acaba a última gota de bílis).”
 

Nesta semana... os ventos fortes foram a tónica dominante, e com eles as vagas alterosas. Isso levou-me a uma reflexão sobre 'O engano dos sentidos'. Cada ambiente potencia o equívoco de algum sentido em concreto: na travessia dos Andes o cansaço provocou-me um engano no sentido da visão (onde vi pessoas a pé eram luzes a quilómetros de distancia); no parque Denali (Alasca), traiu-me o sentido do olfato (o cheiro a carne grelhada no meio de um glaciar inóspito!? - referido no livro 'Horizonte Branco - reflexões da montanha'*); na autocaravana 'tropecei' no sentido cinestésico e... arrombei uma porta sem querer... Nesta semana, a bordo do Paraguaçu, o sentido da audição tem-me pregado as suas partidas: o vento a correr livremente no oceano e o seu choque como os cabos e estruturas metálicas da embarcação, produz todo o tipo de assobios e ruídos e, não raramente, dei comigo a pensar ter escutado a voz de crianças e estranhas melodias...
 

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